Antes
eu pensava que eu tinha muitas coisas para te dizer, e me imaginava falando
todas elas e descarregando essa possível “metralhadora de mágoas”, mas percebo
num lapso de pensamento, a me tomar bem lá distante, consumindo quase que aos
poucos a minha alma, que essa necessidade de te dizer algo nunca existiu. A
máscara da necessidade de falar vem exatamente porque eu tenho medo de ouvir o
que você pode me dizer, medo de saber que nada disso existe ou que numa
hipótese ainda pior, que isso tudo nunca existiu.
Eu
procuro falar e ter sempre a impressão, quem sabe talvez a “falsa impressão” de
ter muitas coisas para te dizer, mas a verdade nua e crua se resume em todas,
todas as coisas que você nunca me disse...
Não
é verdade que eu queira te dizer algo, minha vontade se resume em uma única coisa:
escutar sair da tua boca essas palavras amargas que você me nega, que sempre me
negou e que vive na ilusão do “vamos conversar”, ou ainda do “vamos sentar e
resolver isso”.
Depois
de um tempo o que eu posso dizer é sobre tudo o que você nunca me disse e que você
nunca fez, se bem que esse verbo fazer precisa ser melhor explicado: tudo que você
nunca fez por nós. Sempre esperei que você me dissesse o mínimo de verdade possível
a respeito das coisas, mas você me deixou sempre cair e levantar sozinha. Ninguém
precisa de ajuda depois que já cicatrizaram as feridas. Imaginei que chegaria o
momento onde finalmente eu deixaria de dizer e te escutaria, mas pra você sempre
foi muito difícil ter que falar, ter que contar e mais que isso, ter que abrir
de verdade o livro que decide se podemos continuar ou não.
Penso
que diante de toda a sua ausência, omissão e falta de interesse fica claro seu
posicionamento não só a esse respeito, mas sobre tantos outros dos quais
ficaram lacunas profundas, esperando serem sanadas por uma presença que nunca
teve, por uma conversa que nunca aconteceu e por um sentimento que nunca
existiu!
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