Em primeiro lugar, o que podemos dizer de amor cortês é que este é uma versão ligada à historia da poesia, onde o tema era o amor não correspondido. Amor idealizado, onde se empregava toda gentileza, doçura e lealdade vindas de palavras maravilhosas e exultantes em beleza e até mesmo em suspiros. Amor cortês ou amor poético, romântico na beleza única da expressão das palavras. Alguns chegaram a dizer que este era um amor de fingimento, único e exclusivo para caricaturar algo que se sentia, mas que se tornava impossível de realizar tendo em vista o grau de idealização e assim, pouca ou quase nenhuma realização efetiva.
O amor cortês torna-se assim um amor de desventuras, sofrimentos, tormentos e desencontros que tecem as tramas de um amor que deve se apresentar como impossível. Logo, o objeto amado só pode comparecer como inacessível. Assim, o poeta no lugar de amante se coloca a serviço de sua amada, e nem espera em troca o amor mas compaixão pela sua dor. A mulher amada, tal como o senhor feudal, além de vassalagem e fidelidade, exige um tratamento especial que a coloque no lugar de soberana absoluta, cultuada com delicadeza, afeto e admiração e que o amante seja um cavalheiro.
No amor cortês a mulher é a Dama, a quem o poeta dedica todo o seu amor, sua vida, pensamentos, inspiração, enfim, toda sua existência. Analisando todas essas colocações, poderíamos dizer que o poeta realmente vivia a serviço do amor, assim iniciando uma batalha que tinha como estratégia o segredo, a fidelidade, a humildade, a idolatria e a inibição sexual, onde a coisa amada só poderia ser representada como enigma sem decifração, assim como o amor exigia do amante a privação, o luto e a frustração, deixando claro que as relações entre amante e amada se inscreviam na privação, porque o amor cortês se sustentava na renúncia do objeto amado. Conseqüentemente, o luto, como estado de sofrimento permanente. O amante, por se encontrar a desejo da Dama, lhe atribui uma onipotência máxima, o que faz com que a mulher amada seja tomada como objeto do seu desejo e não como um objeto que lhe causa desejo.
O amor cortês, muito conhecido na idade medieval, por inspirar tantos poetas e artistas, tinha sua função maior na idealização do ser amado, ficando longe assim da possibilidade de realização do amor em si.
Assim, o amor cortês não ama o objeto desejado em si, ama o amor. Amar verdadeiramente o amor é o verdadeiro amor, embora não seja realizável, se bem que para os poetas trovadores, realizar o amor sempre foi a última de suas aspirações e não era simbologia dizer que “morriam de amores”, pois o amor realmente existia, ele só não conseguia sair do nível da idealização, do sonho, da expectativa e da esperança de que aquilo tudo fosse realmente impossível.
(Textos e estudos sobre Jaques Lacan e Freud)
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