terça-feira, 31 de maio de 2011

Beijo



Quero falar sobre algo muito particular, talvez o mais particular que algo possa ser, mas que é banalizado: o beijo.
O beijo em si é tão importante que talvez tenhamos ridicularizado sua importância em nossas vidas. É através do beijo que muitos se cumprimentam: três beijinhos aqui, dois beijinhos ali, um beijinho aqui. Desculpem-me, não utilizo essa forma de cumprimento, afinal, como posso eu fazer parte de uma “cultura” que banaliza algo tão importante como o beijo?
Você permite que uma pessoa que você acabou de conhecer, que não tem nada a ver com você, que não te conhece, que não faz parte da sua vida encoste os lábios dela na sua face como se fosse a coisa mais natural do mundo? Desculpem-me, eu não aceito.
O beijo é tão sério e tão importante que posso dizer que talvez seja a maior entrega que alguém possa dar ao outro.
Quando a gente beija alguém que gosta, que ama, naquele instante de troca, no momento em que os dois lábios se tocam; que você sente toda a umidade dos lábios de outra pessoa; que se troca a respiração; que se fica tão próximo que ambos podem sentir o corpo todo estremecer, sentindo as mãos suarem mais do que o normal, mesmo parecendo tão natural, e consegue perceber exatamente aonde a sua mão vai e o que ela toca; desliza os dedos sobre os cabelos do outro e sente-se sendo acariciada; sente-se puxado por uma força quase incontrolável que praticamente cola os dois corpos juntos e os corações já não batem mais separados, tornando-se um só; sente que quanto mais próximo está, mais se sente seguro e mais quer que aquela sensação nunca acabe.
Ao beijar, você pode olhar dentro da alma de alguém e mostrar tudo o que você mesmo possui, como olhar através de um vidro extremamente fino e transparente. Trocar beijos é mais do que tocar o outro. Beijar o outro é se dar tão intimamente que não há barreiras pra que o outro chegue em você, não há como não se deixar levar pelo momento, não existe uma forma de controlar o que se sente. E as mãos praticamente não falam por si só e os toques e carinhos vão muito além de um simples roçar no outro: você sente o pulsar nas pontas dos dedos, você pode sentir o afeto e o carinho nas mãos que tocam o seu rosto suavemente, e naqueles mesmos lábios que carinhosamente descem pelo seu pescoço, beijando e sentindo uma sensação única de troca.
Beijar, como eu disse, vai muito além de qualquer outra entrega que se pode fazer, pois o que dizem mesmo ser íntimo, não é tão íntimo assim, pois nesses momentos você ainda pode mentir, pode fingir, pode dizer sentir algo que não sente e o outro, mesmo que não acredite, nunca vai poder saber se é verdade ou não o que você disse. Mas no beijo, não é preciso dizer nada disso, pois não existe a necessidade de explicar a entrega mais verdadeira que alguém poderia dar.
E depois ainda me chamam de antiquada por não ser adepta da moda do beijinho!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A doce ilusão da mentira


Depois do fim-de-semana acabei me questionando sobre um tema comum e que, de certa forma, faz parte da nossa realidade.  Engraçado que não só faz parte da nossa realidade, mas para algumas pessoas é a própria realidade.
Mentir.
O que leva uma pessoa a mentir???
Fiquei questionando sobre isso, porque, claro, obviamente eu mesma já menti, mas quando falo em mentir, realmente quero dizer o sentido bem patológico da situação.
Mentir por prazer de mentir, pra enganar, zombar, menosprezar as pessoas... Fiquei analisando verdadeiramente o que leva uma pessoa a mentir. Claro que, dentro de toda a minha curiosidade, só saber o porquê de mentir não é suficiente. Fiquei pensando sobre o motivo interno que leva essas pessoas a fazerem isso, a movimentar essa engrenagem única que uma vez colocada pra girar não pára mais. Acho que isso explica bem o clichê: “uma mentira leva à outra”.
E como eu não poderia deixar de relatar minha própria experiência de vida, eu já conheci alguém que mentia muito. Mentia onde trabalhava, mentia sobre o que gostava, mentia sobre o que realmente fazia e depois de todas essas mentiras fiquei até a duvidar se o nome específico desse indivíduo era o que ele havia me informado.
Engraçado que, embora sempre existisse algo dentro de mim que dissesse, ou melhor gritasse, que algo estava errado, eu não me importei. Quando verdadeiramente descobri “a verdade”, eu nem me incomodei, simplesmente me afastei.
Quando me refiro a afastamento, se trata de um afastamento efetivo mesmo, onde não há mais conversas, não há desculpas, não há justificativas e menos ainda, explicações. Esse afastamento se refere a quase uma aniquilação completa de qualquer lembrança que um indivíduo dessa natureza possa ter deixado em mim. Não me senti mal em fazer nada disso e nem me arrependo de que as coisas tenham sido dessa forma, mas uma coisa ainda existe dentro de mim: o sentimento de pena, de dó, por saber que mais do que contar uma mentira pra um estranho, essas pessoas enganam elas mesmas, fingindo ser algo que não são, fingindo gostar do que não gostam, fazer o que não fazem.
Sinto pena porque já é tão pesado carregar as nossas próprias máscaras, tendo que olhar todo dia pra coisas que podemos nunca verbalizar com outras pessoas, mas que vão estar lá e que nós vamos ter que olhar. Tudo isso já é tão desconcertante e pesado e doloroso... Agora imagina uma pessoa assim, que já não consegue mais nem diferenciar ,o que é dela, o que é mentira, o que ela acredita, ou o que disse para as pessoas que acredita.
Mentir só pode nos levar à loucura, afinal como podemos sustentar tantos personagens de uma única vez?
Uma coisa importante que aprendi com isso é a conseqüência por ser dessa forma... Ou seja, mentir faz com que sejamos sozinhos, abandonados, isolados, faz com que as pessoas nos menosprezem e não confiem em nós. Faz com que sejamos tão desacreditados que depois de uma vida assim, nem se estivermos morrendo ninguém mais nos ajudará. E o mais triste de tudo isso é saber que inevitavelmente você ficará perdido dentro de situações que já saíram de seu controle e que nem você pode dizer mais se são mentiras ou verdades.
Por isso não me arrependo nunca de, mesmo diante de situações não tão agradáveis, eu ainda sim digo o que verdadeiramente estou sentindo. Não espere ouvir de meus lábios palavras para massagear o seu ego, nem que eu vá mentir só pra que você não fique chateado, afinal, hoje eu ainda quero me deitar pra dormir, e ao fechar meus olhos reafirmar dignamente cada uma das teorias em que acredito.

sábado, 21 de maio de 2011

Sentimentos


Essa semana eu tive uma grande sacada, como diria um de meus professores da faculdade.
O que mais atormenta a vida dos seres humanos é algo que de fato não se tem muito que falar, não há uma maneira de controlar e pior, nos pega sem nos avisar. São os sentimentos.
Sentimentos de todas as espécies, desde os mais brandos, suaves, calmos, tranqüilos, aos mais devastadores, mortais, quentes e muitas vezes enlouquecedores.
Os sentimentos são tão fortes em nossas vidas que tentamos a todo custo evitá-lo, correndo atrás dele. Isso mesmo! Parece fora de lógica dizer isso, mas é exatamente assim que funciona, evitamos sentir, mas queremos que os outros sintam por nós.
Adoramos sentir nosso ego massageado diante de uma bela declaração de amor. Chegamos a ficar bobos quando uma pessoa demonstra verdadeiro interesse pelo que nós achamos importante.
A fonte dos sentimentos... Ah, quem não gostaria de saber onde esta se encontra e poder beber um cálice apenas do melhor de todos eles, ou mais que isso, quem não gostaria de poder fazer brotar no outro o sentimento tão desejado?
Ainda bem que não temos esse poder. Imagina o caos que seria a vida de todos nós diante do João que gostava da Maria, que gostava do Carlos, que era apaixonado pela Joana, que se casou com o José, mas que era infeliz, pois amava a Francisca.
Sem contar que quantas desistências não aconteceriam, afinal quantas vezes desejamos algo de todo coração, mas que ficar sem nos faz pensar que realmente não seríamos felizes se o tivéssemos...
Os sentimentos de maneira geral são sempre confusos, um demonstra que gosta demais, o outro, mesmo com tamanha demonstração, não percebe nada demais; uns arrumam motivos para acharem sentimentos onde nem existem, outros justificam seus sentimentos ou pior ainda, a falta deles.
Todos nós sentimos, seja de maneira intensa, seja de uma forma mais branda, seja o amor água com açúcar, ou até mesmo o amor avassalador... Sentir todos sempre iremos sentir. Mesmo que seja    raiva,ainda assim, vamos sentir.
Sentimos raiva quando alguém nos ofende, quando nos sentimos lesados, sentimos várias coisas ruins, e dependendo dos acontecimentos, dizemos que estamos sentindo tudo de uma só vez. Nossa sorte é que nosso corpo vem preparado pra sentir tudo isso, seja a avalanche emocional de carinho, felicidade, amor ou o vulcão em erupção da raiva, da mágoa, da rejeição...
A coisa mais importante diante de tudo que foi dito é que sentir realmente é importante. E um tal psicanalista há muito tempo falou, e dizem que é verdade, que nenhum sentimento deve ser contido, ele realmente deve ser sentido. E de sua sensação devemos ter uma catarse, para que assim possamos abrir mais espaço para novos sentimentos entrarem...  

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conhecer alguém



Quero iniciar esse texto demonstrando minha total falta de concordância com a afirmativa “conhecer alguém”.
Explique-me de que maneira conhecemos alguém?
Só o fato de duas, três ou mesmo um grupo de pessoas se encontrarem, não significa dizer que se conhecem.
Conhecimento não é aquilo que temos internamente, que é adquirido através de experiências com coisas, ambientes, situações, enfim, todas as coisas que nos faz dedicarmos um determinado tempo para nos aprofundarmos e compreendermos sua essência. Por exemplo, se conhece uma língua estrangeira  estudando-a diariamente. Ouvir uma língua diferente não nos faz aprender, ver alguém falando menos ainda.
Conhecer pessoas se processa da mesma forma. Você me conhece?
Acredito que não, pode ser que tenha ligeira percepção de que eu seja de determinada forma, ou que eu tenha determinados ideais, mas ainda sim, sua colocação vai ser duvidosa, pois não existe convivência comigo.
Eu posso garantir que mesmo convivendo um bom tempo com alguém você ainda não poderá dizer que a conhece, afinal somos uma caixinha de surpresas e estamos tão longe de sermos previsíveis ou moldáveis.
Não atendemos a nenhum preceito diferente que não seja o da própria satisfação, vivemos em função única de nosso próprio bem-estar, e carregamos algumas frases prontas como “eu conheço fulano, ou sou amigo do beltrano, ou já sei o que o cicrano faria...”
Ledo engano, eu gosto de rir diante dessas situações por perceber como ainda somos ingênuos diante de coisas tão escancaradas serem absolutamente impossíveis, e não pensem que eu me enquadro fora dessas colocações, não. Eu mesma muitas vezes acredito conhecer as pessoas. Quando passo por situações desagradáveis entro exatamente nesse questionamento: “como posso estar chateada com o outro por ele ter feito isso? Na verdade eu não o conheço”, essa colocação de que conhecer alguém basta. Saber alguns dados sobre a pessoa ou quem sabe trocar meia dúzia de palavras, trocar alguns beijos ou até dividir uma cama, isso não faz de ninguém um livro aberto. Na atual situação, casamentos não são certezas de conhecimento, relações familiares não dão nenhuma garantia e menos ainda um alguém que você pode ter trocado uma conversa.
A única pessoa que podemos verdadeiramente conhecer é justamente a que menos nos importamos, a única que podemos saber até onde vai, como vai, nós não damos atenção.
Aprendi que não existe outro alguém que eu conheça melhor do que eu mesma, e que além de mim, os outros são centenas de milhares de anos de caminhos e de convivência para serem percorridos, na tentativa de tentar compreender o outro integralmente, e ainda assim, difícil dizer que conhecemos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quando somos resistentes...



O que é de fato ser resistente a algo?
Eu posso ser resistente a uma idéia, a um fato, a uma conversa, a uma relação, posso ser resistente até sobre mim ou sobre um comportamento que adoro, que não me faz bem, mas resisto em abrir mão.
Tudo isso é absolutamente normal, somos resistentes quando temos que mudar de atitude, quando temos que aceitar que não temos razão e que nem sempre a música vai tocar conforme nosso ritmo.
Gosto de pensar em resistência quando algo é explícito internamente, mas eu de fato sou muito resistente e não quero aceitar. Tudo isso é corrente que se arrasta, diante de uma imensidão fora de nós e sem fim, pois a resistência pode perdurar horas dependendo de quem tenta nos converter; pode durar dias dependendo da insistência; pode durar anos dependendo da convivência; pode durar vidas, dependendo unicamente de nós mesmos.
Ser resistente é bom e ao mesmo tempo ruim. Temos que resistir aos tombos, temos que resistir às adversidades que cruzam nosso caminho, ou melhor, adversidades que se impõe em nosso caminho. Temos que ser resistentes na esperança, na humildade, resistentes no amor, pra que nada disso se perca, pra que nada disso se dilua como uma nuvem de fumaça.
A diferença é que a única coisa que não pensamos é onde NÃO precisamos ser resistentes. Nesses lugares, momentos, situações, ocasiões, milésimos de segundos que não há necessidade nenhuma de sermos resistentes, geralmente é o momento que mais gostamos de resistir.
Resistimos ao toque, resistimos a dar um sorriso, resistimos a falar “bom-dia”; boa-tarde e boa-noite então nem faz parte do nosso vocabulário. Resistimos a olhar pra nós mesmos...
E sabe por que fazemos isso?
Uma única palavra: MEDO!
Medo de descobrirmos sermos sensíveis, medo de amar nosso próximo tão integralmente que nos perderemos em devaneios maravilhosos de suspiros de fraternidade e gentileza. Temos medo de sermos bons, medo de fazermos mais do que aquele tanto medíocre que somos obrigados.
Temos medo de nos conhecermos, medo de deixar nossos sentimentos saírem na direção do próximo; fugimos sempre porque resistimos ao que somos predestinados a fazer, aliás não só predestinados, mas nossa única função é essa: AMAR!
Amar o próximo, amar o trabalho, amar os filhos, amar o parceiro. Amor-dedicação, amor-doação...
Nós só precisamos amar um pouco mais e resistirmos um pouco menos a tantas coisas que nos fazem mal, mas como vivemos mergulhados dentro do nosso próprio egoísmo e de nossa incapacidade de compreensão, preferimos sempre justificar nossa incompetência com a frase: “eu não sou bom pra fazer isso”; “eu acho que eu não sei fazer isso”; “eu não mereço isso”, e tantas outras colocações descabidas, mas que para a resistência interna servem como luvas para justificar todo o gigantesco medo que temos de sermos verdadeiros conosco.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A centelha de luz

Nessas últimas duas semanas, percebo que eu não venho tirando o máximo de minhas atividades, que sinto um incômodo diante das situações adversas que nem consigo expressar.
Sinto como se algo tivesse sido roubado de dentro de mim, mas não há pistas pra que lado foi, uma centelha de esperança que se apaga como o soprar de uma vela e a amarga desilusão de saber que não há nada que se possa fazer para reverter esse quadro.
As energias foram dissipadas no meio de algo maior que não consigo descrever e a partir de agora um novo rumo é traçado dentro de um destino que eu mesma escolhi pra mim, e embora não seja o melhor, na atual situação me parece o único.
Venho notando que não importa o quanto estamos dispostos a mudar e o quanto podemos melhorar, tudo isso sempre vai ser individualmente particularizado, pois o outro jamais perceberá e menos ainda se importará.
Chega um determinado momento que não convém mais fugir daquilo   a que se está predestinado e adiar só faz os recursos diminuírem e a tarefa aumentar. Antes eu me recusava, me revoltava, pedia explicações... Hoje, nada disso tem necessidade, não há como reverter o processo do leite derramado, a amizade dissolvida, palavras mal colocadas, não há como reverter o amor não realizado, nem o objeto amado que deve ser pra lá de idealizado.
As vezes reclamo de dores de cabeça, de fortes enxaquecas, mas convenhamos, praticamente carrego um mundo de problemas com possíveis soluções, lido com inúmeras expectativas,sou pressionada, exigida, moldada, lapidada, tenho que demonstrar confiança, tenho que fazer tudo impecavelmente perfeito. E agora pergunto: “como não sentir uma mera dor de cabeça?”
O que me mantém confiante é acreditar que por mais tortuoso que esteja sendo esse pedaço do meu caminho, que por mais que eu sinta vontade de chorar, de gritar, de colo, de abraços e longos beijos e que por mais que tudo isso me seja negado, ainda existe internamente algo que me move, como uma única molécula de energia, tão única e tão forte que não me deixa parar e que mesmo com os olhos rasos d’água ainda me motiva para continuar, acalma meu coração que vem andando sozinho nas sombras, mas que em algum momento as coisas vão melhorar. E essa dor que agora parece até insuportável vai passar. O conforto é saber que não importa em quais caminhos eu vou andar, sempre haverá uma luz a me inspirar pra continuar.
Compreendo que toda essa energia que eu sinto, que essa molécula desigual que grita dentro de mim é composta de uma energia sobre humana e que a mesma força que tem para criar pode destruir com igual facilidade. Todo o controle está aí. Trabalhar para sempre criar.
É com um tanto de insatisfação que a partir de agora tomo pra mim todas as responsabilidades de minhas escolhas, guardando essa centelha mais do que inflamável e destrutiva para que ela não venha a explodir, não venha causar mal a ninguém, que tome de mim o que eu mesma causei.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Amor e psicanálise

Eros e Psiquê
Quando se fala em psicanálise e na fala do psicanalista, parece até confuso assim o dizer, pois geralmente o psicanalista mantém uma postura quase que de mutismo. Isso porque para que ele diga alguma coisa, muito deve ser escutado, e suas colocações sempre vão estar relacionadas a uma observação interna, observações que nem sempre quem fala se deu conta. O psicanalista leva em consideração absolutamente tudo, incluindo o que foi dito de maneira proposital ou não, não havendo barreiras nem limites para sua viagem ao inconsciente.
Adorei quando encontrei um artigo que mencionava o tempo e a psicanálise. Duas coisas que eu, como psicanalista, amo de paixão. Percebi que esse meu sentimento de incompreensão em relação ao tempo tinha uma lógica até explicável e descobri que já existia alguém que dizia, “preto no branco”, que a psicanálise não é mais do que uma história de amor, uma história de amor de transferência para cada paciente. Por isso as barreiras de tempo são absolutamente superficiais, afinal quem conta as horas, os minutos e os segundos diante de seu amor???
Existem muitas formas de amor, o amor paixão e desejo quente que idealiza uma forma de ser amado. Existe o amor psicanalítico, uma forma de amar na transferência, onde sabemos que o que nos move, nada mais é do que a vertigem do vir a saber, uma perspectiva do “pode ser...” Amar, em psicanálise, é amar o outro integralmente, estando consciente de que a  qualquer momento vamos ter uma espécie de segredo de nós mesmos revelado pelo outro. Podemos dizer assim que o ser humano paga um preço muito alto no momento que renuncia o mais próprio de si. O que torna a psicanálise interessante é que o desejo do analista aposta que todo ser falante é um ser desejante.
Somos tão ligados a nós mesmos que nossos afetos e nossos desejos, quando incompreendidos ou quando negados por nós mesmos nos fazem adoecer. Então ficamos tristes, perdemos a vontade de comer, de dormir, de sorrir, de existir... Estamos assim afetados pelo desejo, onde nada mais justo que o que negado por nossa consciência reapareça de uma maneira ou de outra nos causando tantas indisposições psíquicas e físicas.
Quando se procura ajuda em psicanálise estamos tentando desvendar quais são esses desejos e mais que isso, não é vivê-los intensamente em sua totalidade, mas tirar uma parte da tão desejada felicidade, correndo o risco assim de estarmos vivos e passar um tempo no mundo na posição real de sujeitos desejantes.
(Análise do texto de Nádia Paulo Ferreira no livro – Psicanálise e nosso tempo – Rio de Janeiro 2002 -  Editora Ágora da Ilha)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Amor cortês


Em primeiro lugar, o que podemos dizer de amor cortês é que este é uma versão ligada à historia da poesia, onde o tema era o amor não correspondido. Amor idealizado, onde se empregava toda gentileza, doçura e lealdade vindas de palavras maravilhosas e exultantes em beleza e até mesmo em suspiros. Amor cortês ou amor poético, romântico na beleza única da expressão das palavras. Alguns chegaram a dizer que este era um amor de fingimento, único e exclusivo para caricaturar algo que se sentia, mas que se tornava impossível de realizar tendo em vista o grau de idealização e assim, pouca ou quase nenhuma realização efetiva.
O amor cortês torna-se assim um amor de desventuras, sofrimentos, tormentos e desencontros que tecem as tramas de um amor que deve se apresentar como impossível. Logo, o objeto amado só pode comparecer como inacessível. Assim, o poeta no lugar de amante se coloca a serviço de sua amada, e nem espera em troca o amor mas compaixão pela sua dor. A mulher amada, tal como o senhor feudal, além de vassalagem e fidelidade, exige um tratamento especial que a coloque no lugar de soberana absoluta, cultuada com delicadeza, afeto e admiração e que o amante seja um cavalheiro.
No amor cortês a mulher é a Dama, a quem o poeta dedica todo o seu amor, sua vida, pensamentos, inspiração, enfim, toda sua existência. Analisando todas essas colocações, poderíamos dizer que o poeta realmente vivia a serviço do amor, assim iniciando uma batalha que tinha como estratégia o segredo, a fidelidade, a humildade, a idolatria e a inibição sexual, onde a coisa amada só poderia ser representada como enigma sem decifração, assim como o amor exigia do amante a privação, o luto e a frustração, deixando claro que as relações entre amante e amada se inscreviam na privação, porque o amor cortês se sustentava na renúncia do objeto amado. Conseqüentemente, o luto, como estado de sofrimento permanente. O amante, por se encontrar a desejo da Dama, lhe atribui uma onipotência máxima, o que faz com que a mulher amada seja tomada como objeto do seu desejo e não como um objeto que lhe causa desejo.
O amor cortês, muito conhecido na idade medieval, por inspirar tantos poetas e artistas, tinha sua função maior na idealização do ser amado, ficando longe assim da possibilidade de realização do amor em si.
Assim, o amor cortês não ama o objeto desejado em si, ama o amor. Amar verdadeiramente o amor é o verdadeiro amor, embora não seja realizável, se bem que para os poetas trovadores, realizar o amor sempre foi a última de suas aspirações e não era simbologia dizer que “morriam de amores”, pois o amor realmente existia, ele só não conseguia sair do nível da idealização, do sonho, da expectativa e da esperança de que aquilo tudo fosse realmente impossível.

(Textos e estudos sobre Jaques Lacan e Freud)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Othello e Desdemona

Estava a refletir sobre uma situação um tanto quanto corriqueira, que talvez já tenha passado pela cabeça da maioria, embora a pior parte não seja pensar sobre isso, mas trabalhar para que o intento seja realizado.
Quantas vezes não envenenamos as pessoas à nossa volta com idéias malvadas, com simples sugestões que causem desconforto interno, que gerem um mal estar?
Refletir sobre esse fato me fez lembrar uma história que talvez muitos já conheçam, a história de Othello, magnífico, bondoso, exímio lutador, líder por natureza, mas frágil, extremamente frágil naquilo que representava ser o mais importante em sua vida e que ele não conseguiu administrar, e mais que isso não conseguiu confiar, que foi o amor.
O amor tem dessas coisas. Quando você pensa que está tudo bem, sempre terá uma língua felina, um dedo podre para maldizer, para plantar nos corações a discórdia; sempre haverá pessoas que se comprazem com o mal e que fazem questão de semear a confusão nos corações, causando sérios transtornos para as pessoas que estão à sua volta.
Geralmente essas pessoas se disfarçam sobre a pele de amigos e companheiros para todas as horas. Vai ser justamente na hora em que você mais precisar que os lábios alheios nada mais poderão de oferecer do que o fel da desconfiança, do ciúme e nos mais graves, dos casos do ódio ao próximo.
Assim como aconteceu com Othello, que chegou ao limite da desconfiança, ao limite de si próprio, não existiam mais verdades absolutas, e seu mundo, que era baseado em seu amor por Desdêmona, simplesmente se partiu sendo consumido pela dor da falta de confiança num sentimento que realmente era verdadeiro.
Exponho sobre esse fato porque quantas vezes nós, na inútil tentativa de driblar o próprio destino caímos nas redes da amargura por desconfiança, por desamor, por não acreditar que algo belo e bom seja para nós. Quantas vezes não nos deixamos agraciar pelo que os céus nos oferecem de maravilhoso e deixamos de receber o bálsamo necessário para nossas almas, com a justificativa de que não somos merecedores, nos deixamos enganar pelas línguas maldosas, pelos pensamentos desconfiados, pelas mazelas diárias que nos acontecem e esquecemos de acreditar na vontade do pai, que como já disse anteriormente: “escreve certo por linhas mais certas ainda.”
Acredito que ultimamente não estamos nos atentando para as situações corriqueiras que se passam à nossa volta, não nos percebemos envenenar, não nos percebemos desistir e quem sabe não nos percebemos abandonar o que realmente poderia fazer alguma diferença em nossas vidas.
Não existe nenhum segredo e não há uma lição de moral a ser passada, pois somos todos livres para fazer o que quisermos, mas nunca é demais parar pra analisarmos em qual situação estamos nos deparando, será que estamos usando de nossa habilidade para envenenar os sonhos das pessoas? Será que temos o direito de fazer isso?
Penso que por mais que alguém se justifique e julgue-se correto em assim o fazer, eu discordo, pois para os conhecedores não é preciso dizer que nada nem ninguém têm a força suficiente para girar com mais velocidade ou parar a roda do destino. Podemos sim, atrasá-la, mas jamais estará em nossas mãos o desfecho final de uma história. Lembrando que não há acaso e que não há ação sem reação, pode não ser agora, pode não ser hoje, mas o que está programado para acontecer inevitavelmente acontecerá, queiramos ou não.

domingo, 1 de maio de 2011

O lugar...

"Não há bem que dure e nem mal que perdure."
 faz um tempo em que deixei de passar longas temporadas nesse lugar que é só meu. Lá não existem limites, eu não preciso me esconder, não há pressão, não há escuridão e mais que isso, não há a opinião do outro.
Um lugar único, magnífico, que é somente meu.  Há alguns dias  tenho voltado a passear por entre os estreitos espaços que lá existem, porque lá posso pensar em você sem que ninguém saiba, posso realizar todas as minhas vontades sem ter que me explicar ou justificar e menos ainda sem ter que pedir a tua autorização.
Diante de momentos agradáveis e de pensamentos tranqüilos, sinto como estar lá com você é bom, como me faz bem... Como me sinto feliz!
Mas, infelizmente, não é nesse mundo que eu vivo, isso são simples devaneios no meio de perturbações que você me causa, fico tentando entender qual seja a finalidade de tudo isso. O que mais falta dizer?
Embora logo em breve tudo isso perca o sentido, pois não me restam muitas alternativas que não sejam ficar longe de você, longe dos abraços e sorrisos, longe das conversas, longe... Acredito que bem mais do que já estou.
Durante um tempo cheguei a pensar que essa não era a minha melhor escolha, mas te pergunto: o que mais você tem a me acrescentar?
Não partilhamos mais, não nos vemos mais, não te sinto mais e ainda gostaria de saber se estou verdadeiramente errada em dizer que não nos conhecemos mais;  você simplesmente foi embora sem dizer adeus, e não fechou a porta pra que eu não perdesse as esperanças de que você voltaria, me desculpe, mas não sei até hoje a verdadeira necessidade de tudo isso ocorrer.
Já sei que você vai dizer que sou eu que não deixo você se aproximar... Só que eu já escancarei as portas do meu coração e você escolheu não entrar.
Como sempre digo, não posso decidir sobre os acontecimentos do destino, mas posso com grande liberdade decidir qual será minha postura diante deles.
Não pense que isso é um desistir, isso é apenas um “não insistir”, não insistir nunca mais, pois toda essa desorganização acaba aqui, toda essa confusão desmedida, todas as falsas esperanças, todas as expectativas, elas se findam, assim como o pedaço de bolo uma hora acaba...
Não pense que meus sentimentos são os piores e nem que sinto raiva ou que tudo isso tenha me deixado brava. Aprendi que o conformismo é o melhor remédio quando tudo o mais já foi feito e não surtiu resultado, e como se diz  “o que não tem remédio, remediado está”.
Pode ser que futuramente eu pense que as coisas poderiam  ser diferentes, mas na atual situação só não quero ter que lembrar de você, nem da sua ausência em minha vida. Só não quero ter que entender mais nada, não quero compreender nenhum motivo e infelizmente, não há teoria que justifique tudo isso que aconteceu.
Todos esses dias vão passar, assim como tantos outros já passaram e foram sem você. Não se pode sentir falta de algo que nunca tivemos...
Aí, me pergunto, qual foi a lição que você tirou disso?
Se bem que sua resposta não mudaria em nada o fato de você ter brincado com os meus sentimentos, de ter alimentado em mim o que não fazia parte de você e ter me magoado profundamente agindo como uma criança inconseqüente.
E, quanto ao lugar que costumo visitar e que me sinto feliz, eu vou continuar a ir lá, só que a partir de agora, sem te levar.