sexta-feira, 13 de maio de 2011

Amor e psicanálise

Eros e Psiquê
Quando se fala em psicanálise e na fala do psicanalista, parece até confuso assim o dizer, pois geralmente o psicanalista mantém uma postura quase que de mutismo. Isso porque para que ele diga alguma coisa, muito deve ser escutado, e suas colocações sempre vão estar relacionadas a uma observação interna, observações que nem sempre quem fala se deu conta. O psicanalista leva em consideração absolutamente tudo, incluindo o que foi dito de maneira proposital ou não, não havendo barreiras nem limites para sua viagem ao inconsciente.
Adorei quando encontrei um artigo que mencionava o tempo e a psicanálise. Duas coisas que eu, como psicanalista, amo de paixão. Percebi que esse meu sentimento de incompreensão em relação ao tempo tinha uma lógica até explicável e descobri que já existia alguém que dizia, “preto no branco”, que a psicanálise não é mais do que uma história de amor, uma história de amor de transferência para cada paciente. Por isso as barreiras de tempo são absolutamente superficiais, afinal quem conta as horas, os minutos e os segundos diante de seu amor???
Existem muitas formas de amor, o amor paixão e desejo quente que idealiza uma forma de ser amado. Existe o amor psicanalítico, uma forma de amar na transferência, onde sabemos que o que nos move, nada mais é do que a vertigem do vir a saber, uma perspectiva do “pode ser...” Amar, em psicanálise, é amar o outro integralmente, estando consciente de que a  qualquer momento vamos ter uma espécie de segredo de nós mesmos revelado pelo outro. Podemos dizer assim que o ser humano paga um preço muito alto no momento que renuncia o mais próprio de si. O que torna a psicanálise interessante é que o desejo do analista aposta que todo ser falante é um ser desejante.
Somos tão ligados a nós mesmos que nossos afetos e nossos desejos, quando incompreendidos ou quando negados por nós mesmos nos fazem adoecer. Então ficamos tristes, perdemos a vontade de comer, de dormir, de sorrir, de existir... Estamos assim afetados pelo desejo, onde nada mais justo que o que negado por nossa consciência reapareça de uma maneira ou de outra nos causando tantas indisposições psíquicas e físicas.
Quando se procura ajuda em psicanálise estamos tentando desvendar quais são esses desejos e mais que isso, não é vivê-los intensamente em sua totalidade, mas tirar uma parte da tão desejada felicidade, correndo o risco assim de estarmos vivos e passar um tempo no mundo na posição real de sujeitos desejantes.
(Análise do texto de Nádia Paulo Ferreira no livro – Psicanálise e nosso tempo – Rio de Janeiro 2002 -  Editora Ágora da Ilha)

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