sexta-feira, 13 de abril de 2012

Reflexos

 "Sabe, eu tô desenvolvendo uma nova  filosofia, eu só preciso suportar um dia por vez.”
(Charlie Brown)


Muitas vezes desconheço essa que olha no espelho todas as manhãs...
Tento questioná-la sobre como vai ser o seu dia, pergunto se ela tem algum plano imediato pra ser realizado nesse momento, tento perceber nos olhos dela se existe alguém com quem ela ainda se importe, e mais que isso tento entender como se importa se não pensa, não se lembra e não faz nada pra ser constante? Como se importa se não deixa que outras pessoas sejam presentes?
São tantos questionamentos e não há nenhuma resposta, um vazio, um silêncio...
Ouvir o silêncio definitivamente é ainda muito pior do que muitos dizem...
Durante esse olhar no espelho, depois de todas essas perguntas, depois de uma série de reflexões sobre um amontoado de coisas que com toda certeza desconversam ou fogem do assunto inicial que deveria ser pensado... A resposta é sempre a mesma, “eu ainda não sei”, seguida de “ainda vou ver o que vou fazer até o fim do dia”, com alguns complementos de “hoje não estou a fim de pensar sobre isso”, logicamente que ela não quer pensar sobre nada, e finge que o dia é longo e que está muito cansada pra ter que tomar uma decisão, acredita mesmo que o dia tem menos de vinte quatro horas e que todo tempo disponível não foi suficiente pra ela pensar em tudo que gostaria, mas mesmo assim se sente tranquila por ter passado mais um dia sem tocar no assunto que todas as manhãs a persegue na frente do espelho.
Parece pouco se analisarmos tantas outras coisas que nos atacam diariamente, mas é duro você se sentir atacada por você mesmo, ter que enfrentar-se sabendo exatamente cada uma das suas limitações.
Responder perguntas que nos são feitas por outras pessoas, nos abre o leque de responder se quisermos, de não respondermos e muitas vezes de mentir... Mentir sem o mínimo de vergonha, mas ainda não achei uma maneira de mentir pra mim mesma... E durante o momento que sou interrogada todos os dias pelas manhãs, deixo de olhar nos meus próprios olhos e silencio todos os pensamentos, porque infelizmente não tem como mentir, mas eu ainda tenho a possibilidade de escolher não responder!
Por quanto tempo faço ou continuarei fazendo isso, eu ainda não sei... Mas nesse momento parece o suficiente.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Retalhos de sentimentos





A doce ilusão de achar que aquele sentimento quase que indescritível me envolveria, que tomaria de mim a razão e me deixaria sentir nem que fosse uma única vez a certeza da sua presença aqui, sentir que realmente os laços eram fortes que os sorrisos valeram a pena e que os abraços realmente envolviam mais do que dois corpos.
Imaginei que pudesse ser constante e não variável no meio de dias dos quais não sabemos como serão exatamente, mas ter a certeza de que você realmente estaria ali, que o colo me esperaria que seus beijos doces me consolassem por um dia difícil ou quem sabe comemoraria comigo mais um passo diante da imensidão que é o futuro, saber que estaria nos meus braços todas as noites e que não importa quantas batalhas eu teria que enfrentar só pra sentir o teu calor ali comigo.
Deixar o desejo transbordar dos meus lábios e sentir o ter cheiro e o teu gosto e acariciar o teu rosto como tantas outras vezes já o fiz...
Essa ilusão partiu como bolhas se partem diante dos nossos olhos, simplesmente sumiu no ar infinito que nos rodeia e deixou somente a sensação de que em algum momento esteve realmente lá.
Tudo passou os abraços, os beijos molhados que me consumiam quase por completo, o teu toque em mim, a tua presença transformando os fracassos do dia a dia em motivos latentes pra eu me fortalecer.
Você simplesmente foi embora ou pelo menos foi o que eu desejei que fizesse depois de partir o meu coração em milhares de cacos e estilhaços, na justificativa de que “não era essa a sua intenção”.
Hoje você ainda está lá, você ainda caminha pelas mesmas ruas e com toda certeza eu te acompanho, sempre calada...
Vem me perguntar sobre as minhas sensações e pergunta como está o meu coração, cria teorias sobre como eu posso melhorar isso, diz que o problema esta em mim, que sou muito resistente...
Você discorre sobre relacionamentos como se eu fosse um bebê que não soubesse nada da vida, como se eu nunca tivesse me apaixonado, como se você nunca tivesse sentido o que eu senti...
Diz pra mim com sorriso nos lábios que sempre se deu por inteiro e que sempre permitiu que as coisas chegassem até você, diz que não nada contra a correnteza e que deixa a vida fazer a sua parte, que percorre os caminhos com a intenção de tirar o máximo proveito dela e de não magoar quem te acompanha nessa jornada, pretende chegar o mais longe que possa ir e absorver tudo que possa te fortalecer... Deixo você falar e falar e muitas vezes tento explicar sem sucesso algo que você não quer escutar...
Eu não posso percorrer um caminho sem antes voltar... Escolher outro caminho sem antes deixar de te amar...

Lembranças

Eu sei como é andar por esse caminho, mas me lembro perfeitamente como foi voltar dele...


Hoje fiquei pensando em uma série de coisas das quais eu poderia escrever, talvez minha paixão pelo teatro, ou quem sabe meu inconformismo com pensamentos limitados, ou minha falta de atenção com quem não insiste em debater filosoficamente meu ponto de vista, na verdade eu poderia discorrer sobre uma série de assuntos que poderiam envolver segundas, terceiras e até quartas pessoas, mas na verdade nada disso me vem a cabeça, nem se quer uma pequena frase, nem uma história nem um conto bobo que alguém um dia contou pra mim...
Só me lembro de uma sensação de garganta seca, um coração acelerado, aquela velha e ao mesmo tempo tão nova sensação de sentir o cheiro da presa e a preparação pra sair à caça, sentir o vento no rosto e a emoção estampada em todos os meus sorrisos. A luta interna, onde o lobo perdedor com toda certeza será o que eu deixar de alimentar, mas com o pedaço de carne na mão e com a tentação não sei pra qual jogar.
Queria poder contar sobre cenas bonitas e sonhos coloridos, sobre a rotina do dia a dia, sobre como o nascer e o por do sol são lindos, mas já faz um tempo que não os vejo, e quando me lembro deles, lembro também do sangue fervendo nas veias deixando pra trás todo amontoado de faixas e asfalto numa velocidade rápida o suficiente pra eu não ter tempo de voltar atrás, lembro-me da aceleração constante e da emoção se sentir o coração batendo na garganta e toda adrenalina sendo despejada em meu ser.
Queria poder dizer como é bom quando chove, quando Deus faz cair do céu aquelas gotículas que nos refrescam e que nos fazem pensar que o dia é bom pra ficar na cama, mas eu só me lembro de passar por essas gotas tão depressa onde cada local da minha pele que elas tocavam viravam hematomas enormes, manchas avermelhadas e arroxeadas que não havia como esconder.
Fora tudo isso queria falar sobre como me faz bem ouvir notas de piano e como me sinto bem com aquele som marcante que tem um sax, enfim gostaria de me prender a essas memórias, mas me sinto condicionada a uma música com pouca melodia marcada por bateria e guitarras que trazem consigo uma época inteira em menos de quatro minutos de execução.
Além de tudo isso eu queria não me lembrar de certas coisas pra não ter que desejar lá do fundo da minha alma esquecer todas elas nesse exato minuto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Felicidade




Engraçado que ontem conversando com um amigo ele me fez a seguinte pergunta: Quando eu me sinto feliz?
Claro que fica a impressão de que eu sou a pessoa mais infeliz desse mundo, o que não é verdade em hipótese nenhuma... Mas enfim, eu não soube o que responder a ele.
No meio dessa confusão por não saber a resposta me peguei na mistura de uma série de sensações que eu imagino que me deixam feliz, e pra cada uma delas eu conseguia especificar momentos da minha vida e de certa forma até vivenciá-los separadamente, mas a tal da felicidade...
Dei uma resposta bem vazia que na verdade não respondeu nada, que na verdade não responde nada nem pra mim nem pra ninguém.
Felicidade, um termo tão técnico pra algo, alguma coisa e/ou sensação da qual buscamos incansavelmente com o objetivo de sentir algo diferente e inusitado, na busca quase que incondicional por algo que só é descrito através de sensações, de causas e efeitos.
Isso! Causas e efeitos...
Sempre buscamos causas que nos levem a felicidade, não importa de onde ela vem; se vem do outro, se vem de Deus, se vem do amigo, da família, do irmão ou até de nós mesmos... Não importa a causa desde que ela seja a consequência final de toda essa historia.
Não tenho como pretensão responder o que me deixa feliz, porque de certa forma seria uma resposta vazia diante de tantas coisas que fazem meus olhos brilharem, mas uma coisa que embora não seja a felicidade, mas que me permite chegar bem perto dela, é ter o coração batendo forte e acelerado quando isso já parecia não acontecer mais.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Divagações




Parando pra analisar, assim friamente o rumo que as coisas tomaram, mais eu tenho certeza que o que importa não é a chegada, mas o caminho percorrido.
Fico pensando em todas as coisas que já aconteceram, em todas as pessoas que chegaram e principalmente nas que saíram, até parece que foi tudo ontem.
Algumas a gente nem se importa, pensa que melhor tarde do que nunca, mas outras...
Outras passam tanto tempo com a gente que começam a fazer parte do nosso pacote principal de sobrevivência, nos acostumamos com as manias, com as típicas falas e com as mesmas piadas, se bem que não importa, porque vamos rir juntos todas as vezes.
São pessoas queridas, quase que irmãos ou irmãs que a gente se acostuma até com o mau humor.
O difícil é que essas pessoas também saem da sua vida. Quando isso acontece nos arrependemos profundamente por não sermos irmãos de verdade, porque se assim fosse teríamos que nos aturar partindo ou não.
Quando olhamos pra trás, vemos milhares de fotos, dos fins de semana, bilhetes de papel de balas, vemos risadas uma serie de coisas que ficaram esquecidas no seu quarto ou na sua casa que essa pessoa não se importa mais em buscar.
Percebe que todas aquelas coisas são realmente importantes, que contam histórias que trazem momentos, mas que a partir de agora é importante só pra você. Percebe que não tem mais com quem dividir, e que nem pode fazer uma piada com um trocadilho de vocês, porque ninguém vai entender... E o que fazia a coisa interessante era que só vocês dois entendiam mesmo!!
A vida continua, terminamos a faculdade, arrumamos empregos melhores, compramos coisas, adquirimos um pouco mais de responsabilidade, escolhemos novos locais de trabalho... A tendência é que a vida melhore, que as coisas caminhem pra sua plena satisfação, todos arrumam namorados e namoradas, a turma já não é mais a mesma, alias nem saímos mais juntos, alias não temos tempo nem se quer de nos ver, menos ainda de sair...
Tudo vai entrando no seu respectivo lugar, tudo vai tomando um ar de certo ou errado, de realizado ou não realizado, idealizamos metas pessoais e esquecemos todo resto pra sermos bons profissionais, bons pais e mães de família, bons cidadãos... Só esquecemos que jamais voltaremos a ser bons amigos.
Quando tudo chega ao fim... Quando a situação é estabilizada, quando você para e fala “finalmente as coisas estão no rumo certo”!
Bom... Depois dessa fala vem a fase da balança... O que você conquistou e o que perdeu nesse meio tempo.
Começa a se lembrar de quando não tinha nada.
Nada material, mas uma serie de amigos, volta a se lembrar das altas conversas, de como era bom trocar aquele abraço, de como era infinitamente bom ter alguém com quem dividir o segredo mais sórdido do mundo, lembra que em algum momento lá atrás fez planos de conquistar o mundo, de ser presidente da república, de inventar alguma coisa que mudasse o rumo da historia, lembra quando se divertia por não fazer nada junto com alguém ou ficar olhando as nuvens só pra ver o que pareciam dividir as lágrimas que muitas vezes se transformavam em risos, o colo quente que sempre te acolhia quando você achava que não ia mais conseguir dar nem se quer um passo, as inúmeras vezes que o telefone tocava só pra perguntar onde está que ainda não chegou e tantas outras coisas que fica difícil mencionar.
Depois o resultado final é simplesmente que você é o que é hoje em função de todas essas coisas tolas que aconteceram anteriormente, de todas as conversas sem sentido e todo silencio absurdamente barulhento que só vocês dois conseguiam fazer... E pra que tudo isso exista hoje, precisou existir você em minha vida, mas agora todas essas coisas realmente estão aqui, mas você não!